SEDE FATMA, FAPESC
QUESTIONAMENTO
O concurso público nacional de arquitetura para a sede da FATMA/FAPESC novamente lança a pauta de discussão sobre a coerência do projeto arquitetônico em seu melhor aspecto. Aspectos legislativos muitas vezes impõem regras que exigem a adoção de soluções bastante impactantes ao meio. O desenvolvimento sustentável busca minimizar as agressões dos impactos da ação do homem sobre o seu habitat natural. Para creditar um edifício sustentável no cenário da sociedade presente, as suas soluções devem ir além da técnica para um desenho funcional e inovador, que incentive práticas criativas aos usuários, proporcionando um convívio dinâmico e constante. Dessa forma, a relação do edifício com o meio procura ordenar a ocupação do território em uma cidade fragmentada. O terreno está em um condomínio, que além de se distanciar da cidade em seus limites privados, não possui espaços atrativos de contemplação e bem-estar aos usuários.
OCUPAÇÃO
A organização de todo o projeto foi
desenhada pela forma da ocupação do território. O embasamento é deslocado para
a parte frontal do lote, onde pode se adaptar ao nível médio definido por lei,
em uma forma adequada a garantir acessibilidade e minimizar a intensa
movimentação de terra. A movimentação de terra é proposta em duas etapas com a
execução de muros de contenção em forma escalonada e outro muro estrutural em
forma de paredes duplas que podem ser industrializadas. A forma de
escalonamento dos muros permite um controle sobre a intensidade das cargas e
dos percursos das águas sobre as encostas. As paredes duplas, além de sua
função estrutural, proporcionam ventilação, controle da umidade e renovação de
ar dos níveis de subsolo
(estacionamentos). O núcleo de circulação vertical e serviços são dispostos em
um volume linear posicionado na face sul do terreno, onde estão as vistas mais
prejudicadas e onde o corte do terreno é maior. O restante das funções se
organizam na porção norte do terreno em um térreo de acesso e uma barra de
escritórios flexível-privados, que são divididos por um nível intermediário
de pilotis-público.
PERCURSO
A busca por soluções sustentáveis
inteligentes levaram ao projeto um questionamento sobre o meio urbano inserido.
Já fazendo parte de um condomínio, o lote encontra-se em um espaço segregado,
em que o próprio relevo do terreno dificulta a circulação das pessoas em seu
entorno. Uma sequência de escadas, elevadores, passarelas e pisos em madeira
desenham um percurso legível, confortável e aconchegante para se adaptar as
grandes declividades. O percurso é uma forma de propagar o conceito adotado,
proporcionando um local permeável, de uso público, que pode ser utilizado pelo
público externo de forma educativa, fazendo relacionar-se com diversos sistemas
e soluções de cunho sustentável com valor pelo meio ambiente. O percurso conduz
os usuários em diversos níveis, desde o seu acesso sobre um “wetland” que
funciona como filtro natural da água, passando por uma praça elevada, com
bicicletário, café e arquibancadas públicas, até chegar em uma grande passarela
que conecta a cota mais alta do condômino, onde sugere-se a criação de um
grande mirante em forma de praça seca.
EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
Para a melhor eficiência do edifício em
termos energéticos, artifícios estratégicos de sustentabilidade e conforto
ambiental foram distribuídas por todo desenho do projeto.
A fachada norte é protegida por uma série
de brises horizontais em madeira, alternados por prateleiras de luz, que
permitem um melhor aproveitamento da iluminação natural e reduzem o ganho de
calor no interior do edifício. As faces leste e oeste possuem brises verticais, que cumprem as mesmas funções para ganhos de conforto, porém são levemente
inclinados para proteger a incidência de luz direta do sol sobre os ambientes
de trabalho nos horários do começo e do fim do dia.
A ventilação cruzada existe através de janelas
flexíveis, facilmente manuseáveis, que pode ser utilizada como forma de
controle sobre a qualidade do ar do ambiente interno. Os vazios internos
potencializam a eficiência da ventilação natural através de um “efeito
chaminé” que conduz o ar quente para a cobertura, onde aberturas automatizadas
podem fazer o controle da temperatura interna de toda a edificação. Existe
também um processo de umidificação natural desempenhado por um espelho d’água
linear, posicionado no embasamento de maneira estratégica, junto a aberturas
que conduzem o ar frio do exterior para o interior. Sobre uma pequena cobertura
metálica levemente inclinada, posicionada no acesso do teto verde, painéis fotovoltaicos
auxiliam na produção adicional de energia que pode reduzir o consumo dos
sistemas de instalações prediais, como ar-condicionado.
ÁGUA
Devido a alta declividade do terreno, a água foi tratada como parte de um processo em um ciclo contínuo no local. Para diminuir a velocidade em dias de chuva, foram criados cascatas naturais e artificiais que permitem a água se dissipar de forma homogênea no entorno. No nível da cota mais baixa, foram reservadas áreas verdes, chamadas de “wetlands” que devem proporcionar um filtro natural ao ciclo da água.